Atravessando a Rua
Dia desses andando por Copacabana parei no sinal de pedestres. Parei e pensei em como os escritores são como deuses, em como um deles faria aparecer uma invasão alienígena ali mesmo. Discos voadores soltando raio laser em plena Copacabana. Mas só tinha uma senhora baixinha do meu lado com uma verruga medonha no nariz puxando um carrinho de feira.
Pensei que um outro escritor faria um metáfora da travessia da faixa de pedestres sendo um longo caminho ao verdadeiro amor. Mas do outro lado só tinha um velho de bermuda e chinelo com a camiseta “Maluf Prefeito”. E eu nem sabia que tinha camiseta do Maluf em Copacabana. Do lado dele tinha outra senhora com a camiseta “Rock in Rio: Eu Fui”. Ela não foi. Não aquela senhora com melão e banana na sacola de supermercado. A senhora com certeza não foi assistir Iron Maiden e seu nome deve ser Gumercinda ou Otacília. E o meu grande amor não estava do outro lado da rua.
Mas não tinha disco voador, nem longa jornada, nem amor nenhum. Podiam ter milhares de coisas que um bom escritor consegue conceber. Só tinha o sinal de pedestres que acabou de ficar verde em uma rua de Copacabana. E eu nem sou escritor mesmo…

